segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A Crítica dos Elogios!



À coisa de duas semanas, nos Coliseus, os Deolinda acabaram os seus concertos com algo, dizem, de interventivo: "Que parva que sou!" Acontece que sinto uma certa indignação pela importância dada a esta "música de intervenção". Tanto assisto a gerações de agora, como a gerações mais antigas louvarem e aplaudirem estarrecida e calorosamente esta música; gerações que parecem ter esquecido as verdadeiras músicas de intervenção. As canções que movimentavam multidões e mudavam opiniões. Melodias intervencionistas que apontavam o dedo, directa ou indirectamente a quem mandava, em tempos de censura e ditadura. Tempos em que eles comiam, eles comiam tudo, eles comiam tudo e não deixavam nada, em que o sonho era uma constante da vida, concreta e definida, como outra coisa qualquer; tempos em que o mundo era composto de mudança tomando sempre novas qualidades. Tempos. Assim, com Artistas como Adriano Correia de Oliveira, Fausto Bordalo Dias, Zeca Afonso, José Mário Branco, Manuel Freire, Paulo de Carvalho, Sérgio Godinho, Brigada Victor Jarra, Quarteto 1111, entre muitos, muitos outros... não compreendo a tamanha importância dada a esta "intervenção", que, sinceramente, não vejo a força, o impacto que possa ter/tem na sociedade de hoje, nos tempos de agora. Talvez se a partir desta mais artistas criem, novamente, uma "Era da intervenção", talvez venha compreender, vagamente, esta quantidade de papel e de elogios desperdiçados. Por agora, ainda não compreendo, não louvo, nem sequer aprecio.

Despeço-me, por hoje.
Talvez volte amanhã.

4 comentários:

  1. Naturalmente que se se viu algo na música, foi porque as pessoas se identificaram rapidamente na música. "Intervenção", é possivelmente exagerado, principalmente porque nos dias de hoje, em sociedades como as de Portugal, quer achemos quer não, e porque podemos achar, temos liberdade suficiente para nos fazermos exprimir nas formas mais éticas... Esta não é então uma música de intervenção, mas sim uma música que dá a voz a determinada faixa da população. E este não é, nitidamente, um caso de marketing puro. Pois foi anunciada sem grandes aparatos por parte da Banda e sua editora, e os próprios disseram que nunca esperariam esta reacção...

    Resumindo: Ninguém vai hoje em dia reclamar por direito à liberdade de expressão, e querer ser levado a sério, no entanto pode-se reclamar sempre do seu trabalho precário como estagiário, ou com a sua graduação e o seu ordenado mínimo...

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  2. Já há dois dias que cá queria vir dizer isto, subscrevendo o Moura.
    Agora, encontrei isto, que li na tua parede: http://ruitavares.net/coluna-publico/a-geracao-parva/
    E, normalmente, subscrevo o Rui Tavares igualmente.
    A intervenção, o agir dentro de acções ( em sentido lato), como está implícito no seu próprio conceito, está condicionada por uma determinada conjuntura socio-económica, histórico-cultural, e consequentemente espacio-temporal.
    Eu sinto, tal como o público sentiu, está canção como uma verdadeira intervenção. Já todos os sabíamos, uns mais outros menos, todos falamos, mas ninguém o cantou, até agora, ninguém tinha tornado uno - nos coliseus - um sentimento colectivo, que agora se juntou.
    Esta música não é só uma letra, não são só acordes, nem pretende ser somente intelectualmente compreendida, deve ser sentida. Já todos sabemos que somos escravos de uma sociedade prometida, que se auto-destrói a cada dia, mas precisamos de o sentir, de sentir a revolta para tomar uma atitude. Vivemos 50 anos em ditadura, e sempre houve intelectuais a criticar o fascismo, mas não duvides - que não duvidas pois o afirmas - que quando a arte (que toca o sentimento, mas não só) teve coragem de massificar o sentimento colectivo, mas até então refundido, é que todos os portugueses - os directamente envolvidos e os não - tiveram coragem e segurança, pelo grupo, de realmente agir, porque tiveram a certeza que era a atitude certa, embora desviante.
    De que nos servem as conversas de café, se no fim são lavadas pia abaixo com as borras do fim da chávena? Alguém que as cante.

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  3. http://ad-exemplum.blogspot.com/2011/02/ainda-bem-que-tem-sido-falado.html

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  4. Devido à indignação daqueles que achavam que eu devia comentar os seus comentários, aqui me disponho a isso mesmo:

    Então será esta uma canção para dizer o que já foi dito, mas de uma maneira mais "globalizante"? Para mostrar aos portugueses que todos achamos o mesmo: que isto está mal e se não fizermos nada para contrariar ainda vai piorar? Seria, então, necessário, pergunto eu. Para que servem as revoluções, as manifestações, os comícios, as greves... ? Argumentam-me e com razão que não têm funcionado; só dão prejuízo aos grevistas por descontarem no salário, no subsídio de alimentação e no fim de tudo, não resulta em mudança alguma. Pois eu acho que, sinceramente, as "coisas" não têm sido organizadas devidamente e passo a explicar-me: O que paralisa um país não é umas horas ou mesmo um dia sem serviços públicos, administrativos judiciais... Uma paralisação que fizesse pensar os "Boys" seria uma paralisação de 2/3 dias. Se resultaria? Não tenho certezas que sim, mas falos-ía pensar nas medidas a tomar/tomadas, na decadência em que estamos metidos e em toda a miséria que nos ronda e, por este andar, rondará. Não considero, sinceramente e infelizmente, que esta melodia vá alterar algo do que se está a passar hoje em dia no nosso Portugalzinho.

    Boa Noite!

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