sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

E tudo o vento levou...


Paredes gélidas, gastas e já com alguns buracos. O chão com marcas de muitos anos de sabedoria, estudo, vivências e experiência. Os degraus das majestosas escadarias gastos, só na ponta, sinal de perseverança e da luta pelo ensino, por um futuro. Corredores largos e altos cheios de conversas passageiras, e de comentários que perpetuam nos seus ouvidos. Janelas velhas, podres, esburacadas e vidros frágeis estalados e re-mal-colados. Salas... O chão de madeira velha, já macia, sem arestas nem farpas, barulhenta e a chiar. Dois degraus - era esta a distância entre nós e aquele que nos formava. Cadeiras riscadas? Não! Cadeiras com memórias... Cadeiras cheias de história, cheias de " quero-me ir embora daqui!" e de "Amo-te, és a miúda da minha vida!!!!". Mensagens de há muito, algumas delas já com décadas... Debaixo das mesas, os infalíveis "apêndices elásticos". Vermelhos, Verdes, Azuis, mal mastigados, triturados,... de tudo um pouco. Os quadros de placas de ardósia áspera; Mesmo muito áspera, como os paralelos da avenida, e o giz, que em contacto com o negrum do quadro, produzia um som único... As casas de banhos, quer dizer, a casa de banho masculina e as duas casas de banho femininas, sempre com uma luz natural, sempre sem luz artificial, com portas de vidro na entrada e portas feias no interior. Um jardim interior com a sua beleza natural, com os seus locais tipicamente ocupados, ora por grupos nas tardes de verão a apanhar sol, ora por duetos tentando matar saudades do dia anterior. Um jardim exterior. Um quarteirão inteiro de jardim. Espécies raras, alcatrão solto e esburacado, uma árvore centenária, um "campo" sem limites, um poli-desportivo á chuva e ao sol, ao calor e ao frio. Seis metros quadrados de areia cheia de ervas a florescerem. Outro campo sem limites. Duas salas oficinais de canto, que delimitavam, na parte frontal, o quarteirão por nós ocupado. Bancos de Madeira. Bancos velhos de madeira com musgo, de ferro enferrujado e parafusos soltos. Bancos sujos, bancos molhados, bancos secos, bancos pretos...
Não eram bancos! Eram propósitos. Eram rotinas e desejos. Eram momentos passados a três, a, simplesmente, observar o que nos rodeava, a falar sobre o acaso, a relaxar depois desta e antes daquela aula. Momentos em que a união fez a força. Momentos para recordar com alegria e emoção! Momentos que nunca esquecerei. Foram mesmo inesquecíveis e difíceis de descrever. Espero que também achem o mesmo...
Foram os bancos que nos juntaram?
Foram eles que nos uniram e que nos agarraram?
Não. Mas ajudaram muito!

E agora? Disto tudo, o que restou... ?
As paredes?
Não.
Os degraus gastos?
Não.
As Cadeiras com memórias?
Não.
As mesas com os apêndices elásticos?
Não.

...

Os Bancos...?
NÃO.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Mais um que passou...






Exceptuando os que correm mal, os feios, os tristes, os desassossegados, os trabalhosos e os ruins... Não contabilizando aqueles em que nos chateamos, aqueles que somos confrontados, aqueles que nos fazem de escravos, ou mesmo aqueles que simplesmente passam... E excluindo todos os absurdos, todos os fatigantes, todos os merdosos, todos aqueles em que somos esquecidos, nós e a nossa existência, e todos os que por algum motivo acordámos mal dispostos...

Todos os dias são bons.





quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A Importância da Arte


"A arte é, provavelmente, uma experiência inútil; como a «paixão inútil» em que cristaliza o homem. Mas inútil apenas como tragédia de que a humanidade beneficie; porque a arte é a menos trágica das ocupações, porque isso não envolve uma moral objectiva. Mas se todos os artistas da terra parassem durante umas horas, deixassem de produzir uma ideia, um quadro, uma nota de música, fazia-se um deserto extraordinário. Acreditem que os teares paravam, também, e as fábricas; as gares ficavam estranhamente vazias, as mulheres emudeciam. A arte é, no entanto, uma coisa explosiva. Houve, e há decerto em qualquer lugar da terra, pessoas que se dedicam à experiência inútil que é a arte, pessoas como Virgílio, por exemplo, e que sabem que o seu silêncio pode ser mortal. Se os poetas se calassem subitamente e só ficasse no ar o ruído dos motores, porque até o vento se calava no fundo dos vales, penso que até as guerras se iam extinguindo, sem derrota e sem vitória, com a mansidão das coisas estéreis. O laço da ficção, que gera a expectativa, é mais forte do que todas as realidades acumuláveis. Se ele se quebra, o equilíbrio entre os seres sofre grave prejuízo."

Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'



Para mim, uma excelente visão do que é a arte e o que era de nós sem ela: Não seríamos, sequer.



terça-feira, 11 de janeiro de 2011



Quem disse que sou filho de gente?




quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Tia Em...

Caso em questão n.º 5:

Cara Tia Em,
A minha sogra insiste em fazer carne assada sempre que o meu marido e eu lhe fazemos uma visita, apesar de saber que sou vegetariana desde sempre. O que devo fazer da próxima vez que isso acontecer?

Fumegante em South Royalton


Cara Fumegante,
Torça o nariz e vá-se embora.


(...)


Cara Tia Em, penso. Tive de fazer uma segunda hipoteca da casa para pagar a conta da água. O que devo fazer?

Aflito de Townsend.


Caro Aflito,
Beba menos.


(...)


Cara Tia Em:
Ultimamente tenho sonhado com o meu ex-marido, devo considerar isto como um sinal divino, e telefonar-lhe para dizer olá?

Com insónias em Strafford


Cara com Insónias:
Sim, mas eu não lhe diria que estava a telefonar porque ele é a estrela principal dos seus sonhos. A menos que ele por acaso diga, "Caramba, é tão estranho que tenhas telefonado hoje, é que sonhei contigo ontem á noite."

Tia Em


(...)



Tia Em é uma personagem de um livro que ando a ler e é como que uma "conselheira", e todos este conselhos (os 3 aqui apresentados), e outros, são dados por meio de uma coluna num jornal. Achei engraçado as suas respostas e super descontextualizado no livro em si. Chama-se "No seu mundo" de Jodi Picoult e é sobre um jovem com Síndrome de Asperg e os seus problemas, paranóias, vivências,...



Uma, moderadamente, boa noite!