terça-feira, 22 de junho de 2010

Aquilo que não sou...

Sinto-me só...
...Completamente só...
...Abandonado

Abandonado num mundo cruel. Num mundo onde reina a hipocrisia e a descriminação, o racismo e a guerra. Sinto-me só. Nú! Completamente nú!
Afectos...? Onde pairam vocês?
Preciso de uma festa delicada que, suavemente, deslize pela minha face e que, no final, possa sentir o alívio e o carinho e possa encher-me, consoladamente, de felicidade. Quero sentir a força e a alegria de um abraço. De um abraço, bem apertadinho, de alguém... mas não de um alguém qualquer. Um abraço daqueles que no final possa sorrir e suspirar de chofro e libertar-me de tudo o que sou, e ser, apenas, feliz. Apenas isso.
Quero libertar-me deste ser. Quero nascer novamente. Nascer naturalmente. Ter uma educação, uma adolescência e uma vida normal. Deixar-me destes textinhos ridículos de quem tem a mania e acha que escreve alguma coisa... essa irónica impressão de quem sabe o que diz e tem jeito para a coisa... que me rebaixam e reputação e me enaltecem a pobreza de espírito e a baixa integridade.
Escondo-me por trás daquilo que não sou. Envergonho-me todos os dias quando me observo ao espelho, cuidadosamente. Lavo todos os dias a cara na esperança de, um dia, esta se alterar, sei lá. Tento ser quem não sou, mas vou enfraquecendo. Dói-me a alma. Dói-me o coração. Dói-me a cara de tanto esfregar.

Esfrego e não sai!
Esfrego e não sai!
Esfrego e não sai!
Esfrego e não sai!
Esfrego e não sai!

A pouco e pouco vou-me cansando. É mesmo angostiante! Talvez, talvez um dia consiga ser a pessoa que, verdadeiramente, sou!


Por agora continuo sendo aquilo que não sou,
esperando o momento ideal para não o ser...
Se esse momento ideal existir...
Se eu existir...




5 comentários:

  1. "Tu és tu sempre que tu és
    És mesmo tu quando pensas que és outra coisa
    E tu pensas que não mas tu és mesmo bom a ser sempre
    Quem és
    Daí o teu motivo ser inapagável
    Daí o teu desejo ser incontornável
    O prazer é tão maleável
    Daí o seu valor ser inestimável"

    Disse-o Manuel Cruz na sua "Borboleta"
    e faço dele as minhas palavras...tenho dito!

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  2. E eu faço das palavras do João, as minhas palavras. Não esfregues tanto Valentim, não vale de nada. Basta-te olhar melhor!
    Beijinhos

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  3. "É mesmo angustiante! Talvez, talvez um dia consiga ser a pessoa que, verdadeiramente, sou!"

    Sei do que falas. Tem sido a minha constante batalha. Sinto que é bem pior ser e não conseguir mostrar, do que não ser. Ser e não o aparentar, é ter de colocar um "quase" em tudo aquilo que és. Sou algo, e sinto muita vez que não esse algo que consigo transpôr para as pessoas. Mas isso não importa nada, porque é com crueldade que julgamos as pessoas e somos julgados. Para nós, os outros são sempre algo bem definido e definitivo. São-no e não hão de mudar. Mas é quando olhamos para nós que vemos que afinal não é tudo assim tão concreto. Tão bem definido e definitivo. É algo que está sempre em mudança, e que podemos alterar e moldar à nossa vontade, sempre que quisermos. Nunca ninguém ponderá ou deixa margem para a possibilidade de eu ser algo diferente que me acharam ser. E o problema é que eu sou tanta coisa... Às vezes, sinto-me quase como uma barbie, com tanta versão. Há a do campo, a da cidade, a do dia, a da noite, a que é jornalista, a que é professora... Sou tanta coisa. E noto cada vez mais ser algo diferente, com pessoas e locais diferentes. Sou uma Joana na escola, outra em casa. Sou uma Joana sozinha, outra acompanhada. Sou sempre diferente. Tenho todas as versões. Não sou nada em concreto. Mas em cada local, cada grupo de pessoas se cinze àquilo que vê que eu faço aí, e concluí que sou isso. E essa é uma ideia que depois será difícil de mudar. Chego então à conclusão, que talvez seja dolorosa, de que ninguém me conhece, pois ninguém me acompanha para todo o lado. Exepto eu. Eu conheço-me. Qual é o desafio? Tentar diminuir a diferença entre aquilo que eu sou, e aquilo que os outros pensam que eu sou. Obviamente será algo que nunca será conseguido com total sucesso, mas acredito agora que vou conseguindo-o, porque cada vez menos são as pessoas que quero do fundo do coração que me saibam a sério.

    Desculpa Valentim, se interpretei o teu texto e levei para algo que não tinhas dito.

    Beijinho,
    Francisca

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  4. A ideia é precisamente essa... Principalmente quando dizes: "Ser e não o aparentar, é ter de colocar um "quase" em tudo aquilo que és. Sou algo, e sinto muita vez que não esse algo que consigo transpôr para as pessoas.", "Eu conheço-me. Qual é o desafio? Tentar diminuir a diferença entre aquilo que eu sou, e aquilo que os outros pensam que eu sou."

    Atrevo-me mesmo a perguntar... Somos parvos ou quê? Nem conseguiremos mostrar "ao mundo" aquilo que somos, verdadeiramente? Seremos assim tão complexos?

    Foi bom saber que não sou o único a navegar por estes mares! :)

    Obrigado, Francisca ;)
    Beijinho

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  5. Não és mesmo, Valentim :) Creio até que esta será uma questão que atormenta muita gente, ou já atormentou. Mas acabam por aceitar o facto de nunca conseguirem mostrar-se completamente a todos, e desistem. Não o quero fazer, e luto para que isso não aconteça. Não quero mostrar a toda a gente. Quero mostrar a umas quantas pessoas aquilo que sei que sou, e que sou mas que eles ainda não conseguem ser. E sei que agora já tenho confiança necessária para o conseguir, agora resta-me esperar...

    Beijo, Francisca

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