Cruzo a perna esquerda sobre a direita. Olho pela quarta janela para não sei onde, para não sei o quê. Ingiro uma garrafa de água mineral Luso. Estou sozinha. Chateada com tudo e todos. Olho-os com raiva e nojo, com desprezo e vontade de os bofetear. Não me aguento muito tempo aqui com esta gentinha. Ingiro mais um pouco da minha água mineral Luso com um movimento limpo, rápido e preciso. Cada um que entra ou passa, desvia-me a atenção do que é realmente importante. E eu não gosto! Não sorrio para eles, não lhes falo sequer. Ai de mim. A minha água mineral Luso está quase no fim e continuo a olhar... não a ver. Levanto-me de chofre, dispo o meu sobretudo e corro para a casa de banho. Ao sair, olho-os todos. Um por um. Coitados - penso eu, com sarcasmo. Volto para o meu lugar, visto o sobretudo e bebo a água mineral Luso como se não houvesse mais alguma água mineral Luso no Mundo. Vou pagar. Estou farta de aqui estar. Chateada, arrumo as coisas... Volto-me a sentar. Lá fora a chuva intimida-me... A chuva molha o chão molha as paredes e todos os telhados. Forma poças e algumas correntes, rejuvenesce as plantas e lava as terras. Por outro lado, entristece aquele que passeia e aquele que bebe café na rua; aquele que sai de casa para lado algum. Só. Por ela, o ser humano foge da rua, passa-lhe sem a perceber, sem sequer observar, realmente, a beleza desta chuva. Olhamo-la com desdém e tentamos esquivar-nos dela. Protegêmo-nos dela como se fosse uma doença transmissível ao toque. Se alguém olha para mim questiono-o mentalmente Que foi, nunca viste? Pára de me olhar! O meu olhar é fixo. Fixo um ponto e olho-o durante algum tempo, sem, milimetricamente, desviar o olhar. Dou o último golo da água mineral Luso e atiro o copo de encontro a mesa até quase este partir. Pego na cadeira e desloco-a dois centímetros e meio para a frente. Volto a sentar-me. Troco o cruzamento das pernas. Levanto-me com a carteira e vou até ao balcão. Poiso-a bruscamente. Volto a pagar. Desloco-me para a minha cadeira, sempre a mesma, sempre no mesmo sítio. O café está vazio. Desvio o meu olhar para o seu interior e fixo-o. Até quando?
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