O cenário é frio. Os figurinos foram feitos a condizer com a frieza deste espaço. As luzes aquecem. Não muito, mas ajudam a descongelar todo o gelo que há dentro de nós. Descongela por completo e chega mesmo a aquecer um pouco os tecidos de que somos portadores. A singularidade em alguns momentos assusta-me, noutros conforta-me. De pálpebras cerradas, sinto. Oiço. Apercebo-me de todos os que me rodeiam. Na boca de cena sou confrontado com dezenas de pares de olhos apontados a mim e eu não consigo olhar para todos ao mesmo tempo para tentar perceber cada reacção. Tento desviar o olhar. Tento evadir-me dali. Tento parecer um tolo. Um romântico. Um amante. Um apaixonado... Um bocadinho de cada um. Quando me vejo encostado a um plano paralelo ao tecto, sinto um desvairo. Sinto que não sou eu. Deitado, refugio-me. É aqui que pauso e acalmo o coração. Espero que da próxima vez ele não bata com tanta força. Acaricio a esquizofrenia em pessoa e desejo-a. Sentado, descanso. Preparo-me para o que aí vem. Junto as forças necessárias para ajudar os meus pés. Tentarei não os ferir, mas se tiver de ser, falo-ei sem problema algum. Afinal, estou aqui para representar.